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segunda-feira, 22 de abril de 2019

3 Dias em Roma

Se há cidade que não podemos falhar em Itália é Roma. Apesar de ter ouvido opiniões distintas sobre a cidade e experiências contraditórias na mesma, sabia que tinha que visitar a cidade de fio a pavio e tirar as minhas próprias conclusões. Assim, num fim-de-semana de Outubro em que alguns amigos tinham vindo visitar, rumámos durante 3 dias à capital do país. Este guião está dividido nos 3 dias distintos e no trajeto que decidimos fazer em cada um dos 3 dias, para que seja mais simples para vocês compreenderem o tempo que cada monumento leva e como podem, também, organizar a vossa viagem.

O primeiro impacto da cidade foi assustador, confesso. A periferia da cidade é descuidada, suja, muito velha e causa logo má impressão àqueles que chegam à cidade de autocarro ou de comboio. O metro não é funcional, é muito velho e sentimos algum receio em andar nesta zona da cidade. No entanto, quanto mais para o centro da cidade nos deslocávamos, mais as coisas tomavam outro rumo.

PRIMEIRO DIA

Este primeiro dia começou cansado - tínhamos passado a noite inteira num autocarro, sem dormir quase nada - mas com um plano bem traçado. O destino do dia? O emblemático Coliseu de Roma. Portanto, e depois de deixarmos tudo no hostel onde ficaríamos hospedados por duas noites, rumámos em direção ao Coliseu para visitarmos tudo aquilo a que tínhamos direito. Quando aqui chegámos, deparámo-nos com uma fila interminável e, depois daquilo que pareceu uma eternidade - e que foram umas duas horas -, tínhamos finalmente os nossos bilhetes para entrar. Por 7 euros e meio, com desconto de estudante, era-nos dado acesso ao interior do Coliseu, ao Palatino e ao Fórum Romano.



As filas para a entrada do Coliseu são intermináveis e com péssima organização - existia apenas uma caixa de bilheteira para aqueles que eram centenas de turistas a querer entrar. Por isso, se poderem, aconselho a que comprem os bilhetes previamente ou cheguem bem cedo, para não perderem tempo como nós nas filas. No entanto, a espera valeu a pena. Se o exterior do Coliseu impressiona pela sua grandiosidade - afinal de contas, é o maior anfiteatro alguma vez construído - e pelo detalhe, o seu interior não lhe fica nada atrás. É incrível imaginar o que aqui já aconteceu e ter a percepção de como a sociedade se alterou ao longo dos anos, sendo hoje em dia impensável colocar duas pessoas em combate entre si da forma que outrora era feito.

Na altura em que lá fomos encontrava-se em reconstrução mas, apesar disto, conseguimos compreender perfeitamente onde eram as bancadas e como estavam organizadas. É verdadeiramente impressionante o estado de conservação deste anfiteatro! Temos acesso aos vários níveis em que as bancadas se encontravam e podemos circundar o Coliseu na sua totalidade, conseguindo ver todos os pormenores e ter uma visão geral de todos os ângulos possíveis e imagináveis. É realmente um monumento que vale a pena visitar e que compensa o valor pago por si só.

Depois de maravilhados com o Coliseu, o Foro Romano e o Palatino deixaram a desejar. Mais uma vez, apesar de impressionante a longevidade das estruturas que aqui se encontram e de ser uma das mais importantes zonas arqueológicas da Europa, senti que o percurso não estava claro, as ruínas não se encontravam devidamente sinalizadas e, por isso, acabávamos por não conseguir compreender da melhor maneira aquilo que estávamos a ver, ficando tudo sinalizado por nós como um aglomerar de pedras históricas.



O cansaço de uma noite mal dormida já começava a dar ares de sua graça e, portanto, decidimos que íamos terminar o dia por ali. No entanto, e como ainda brilhavam sobre a cidade os últimos raios de sol, conseguimos avistar o Monumento a Vittorio Emanuele II, também conhecido como Altare della Patria, acabando este por ser o nosso ponto turístico final do dia. Construído em honra do 1º Rei de Itália Unificada, este monumento foi o meu favorito de todos os pontos turísticos da viagem. Sendo o maior monumento de Roma, conquistou-me pela sua dimensão, pela vista sobre a Piazza Venezia que nos dá, pelo pôr-do-sol que aqui brilhava em tons laranja contra o mármore branco e pelo facto de ser possível vê-lo de qualquer ponto alto da cidade.



SEGUNDO DIA

O segundo dia prometia ser o mais cansativo - e cumpriu a promessa.  Na noite anterior tínhamos traçado o plano, sem grande margem para desvios devido ao elevado número de sítios que tínhamos para visitar. No entanto, a caminho do primeiro ponto do dia, tropeçámos numa Basílica que, já a experiência nos tinha ensinado no dia anterior, valeria a pena entrar. E se valeu a pena! A Basílica de Santa Maria Maggiori deixou-nos de queixo caído no momento em que vislumbrámos o seu interior. Com os seus tectos totalmente cobertos de folha de ouro em padrões geométricos e cada bocadinho de parede coberto com um detalhe impressionante, seja ele um fresco religioso ou relevo, trabalhado harmoniosamente com a restante decoração, está no topo de basílicas mais bonitas que alguma vez visitei, sendo apenas destronada pela atração principal do Vaticano.


Contentes com a descoberta que tínhamos feito, seguimos caminho para Villa Borghese, um enorme jardim próximo do centro da cidade onde se encontram diversos museus da cidade como a Galeria Nacional de Arte Contemporânea e Moderna ou a Galeria Borghese. Este é o principal parque da cidade e, apesar de não considerar que Roma seja extremamente citadino, serve de escape para aqueles que habitam na cidade e querem fugir um pouco aos turistas. No entanto, este parque não me conquistou particularmente. Apesar de ser agradável para apanhar um bocadinho de sol ou dar uma caminhada, enquanto turista não achei que tivesse nenhuma característica particularmente apelativa além de uma estufa bonita e um lago no qual podíamos andar de barco a remos. Portanto, caso tenham o tempo na cidade, não recomendo a visita ao mesmo.

Mesmo ao lado da Villa Borghese, encontramos a Piazza Popolo, o nosso próximo destino. Apesar de, aparentemente, não ter nada de especial quando comparativamente com outros locais desta cidade, houve algo nesta praça que me conquistou. Seja pelo facto de existirem senhores a fazerem bolhas de sabão por todo o lado ou pelo facto da praça não estar cheia de turistas, fiquei maravilhada com a mesma e foi aqui que saltei e dancei ao som do artista de rua que tocava Ed Sheeran, enquanto rebentava bolhas como uma criança feliz.


Uma das principais atrações que tinha surgido aquando as minhas pesquisas para criar um roteiro foi a Piazza di Spagna e os seus Spanish Steps. Com um total de 174 degraus, esta escadaria teria potencial para ser impactante. No entanto, acabou por se perder no meio das centenas de turistas que as ocupavam, seja a almoçar, a apanhar sol ou a descansar um pouco as pernas. No entanto, esta zona da praça é bastante bonita nos seus tons terra, verdadeiramente italiana - apesar de ser, supostamente, espanhola - e com algumas lojas de luxo a espreitar as montras, demonstrando que é uma das zonas mais ricas da cidade.

Se na Piazza di Spagna achámos que existiam demasiados turistas, sabíamos que no próximo sítio do nosso roteiro iríamos caminhar como sardinhas enlatadas. E assim foi! É facilmente perceptível o monumento a que me refiro... a Fontana di Trevi. No entanto, sou-vos sincera quando digo que os turistas não me incomodaram nem um bocadinho porque a beleza e a grandiosidade desta fonte é demasiada para nos deixarmos distrair por turistas. Foi dos monumentos que mais me surpreendeu pela positiva, porque esperava uma fonte de um tamanho normal, relativamente maior do que as restantes mas nada de exacerbado. Foi com esta ideia em mente que me deparei com um monstro rodeado de pessoas, branco como a cal e maravilhosamente detalhado. No fundo da fonte podemos ver milhares de moedas daqueles que desejam o amor, dinheiro, saúde ou sucesso para si e para as suas famílias e foi aqui que também eu atirei a minha moeda a desejar sorte para o ano que vinha.


A algumas ruas de distância encontra-se o Pantheon. Este, ao contrário da Fontana, desiludiu-me um pouco. Compreendo e reconheço a sua importância historicamente, uma vez que foi a casa de um antigo templo romano, construído entre 113 e 125 depois de Cristo e considerando as suas condições, é impressionante ver um edifício do género ainda de pé sem quaisquer sinais lesivos. No entanto, não achei o edifício arquitectonicamente interessante nem grandioso quando comparado com os restantes monumentos que tínhamos visto outrora. Vale a visita pela sua importância no contexto da cidade, mas nada mais do que isso. O mesmo se sucedeu com a Piazza Navona, umas das praças centrais da cidade, repleta de lojas e restaurantes típicos italianos e com os tons amarelos, laranjas e vermelhos muito típicos das cidades italianas. Tal como tudo em Roma, é impressionante e de uma beleza extraordinária. No entanto, e como não podemos ter todos os monumentos a ocupar o topo de monumentos favoritos da cidade, esta praça fica fora da corrida.

Conhecendo os meus roteiros e este tipo de publicação que por aqui faço sempre que viajo, estão fartos de saber que das minhas coisas favoritas de fazer é passear pelas ruas e sentir aquilo que a cidade verdadeiramente é, na sua simplicidade. É por isso que a zona de Trastevere se revelou uma das minhas favoritas. Em tons alaranjados, com plantas por todos os cantos e street art, foi aqui que comemos um gelado - dos baratos e bons, a fugir ao preço de turista - e foi aqui que senti a verdadeira essência italiana pela primeira vez desde que estava em Roma. Por ser uma zona menos turística, ouvia-se a língua italiana a ser cantada pelas ruas, com os gestos e a voz alta que é tão característica deste povo - e que eu adoro!


Além disso, é nesta zona que encontramos a melhor vista panorâmica gratuita sobre a cidade – coisa que não dispenso seja em que cidade for, como sabem – e, portanto, colocámo-nos a caminho de Gianicolo. Dizer-vos que foi uma subida fácil seria estar a mentir-vos. Apesar de ser um caminho curto, a inclinação era de mais de 45 graus o que nos fez sofrer durante uns bons 15 minutos enquanto subíamos pelo monte acima. No entanto, ao chegar ao cimo do monte, esquecemos todo esse sofrimento. A vista que daquele ponto temos é de cortar a respiração! Uma vista sobre a cidade de Roma longínqua, mas onde conseguimos identificar os pontos principais da cidade. Existe um extenso muro onde podemos aproveitar para descansar - coisa que fizemos - enquanto apreciamos a maravilhosa cidade que se desenrola diante de nós. Foi aqui que aproveitámos os últimos raios de sol do dia, enquanto a noite caía e o frio e a chuva começava a tomar conta da cidade. Descemos em direção ao outro lado do rio, passeámos um pouco mais por Trastevere e passámos pela Isla Tiberina, uma pequeníssima ilha muito semelhante à zona de Trastevere no caminho de volta para casa e rumámos àquele que seria o último destino do dia.

O Capitólio tinha-nos escapado da primeira vez que visitámos a Piazza Venezia, o que fez com que tivéssemos que passar nesta zona para visitarmos o seu exterior. Como tudo na cidade, com uma magnitude enorme, este ergue-se no cimo de uma escadaria como uma praça perfeitamente quadrada com 3 edifícios simples e em tons neutros. Estes são as casas de museus da História Romana, onde pudemos encontrar a famosa escultura Lupa Capitolina, uma escultura de bronze desenhada de acordo com a famosa lenda da fundação da Roma Antiga. Não entrámos no museu e, portanto, não vimos o original mas existe uma réplica da escultura nesta praça que dá para ter uma percepção do que é a escultura original. Recomendo, no entanto, que vão a esta praça durante o dia, para que possam ter uma boa vista sobre a zona do Fórum Romano e que o façam em seguimento do Monumento Vitorio Emanuele II, para que não tenham que voltar a esta zona - não que seja uma zona aborrecida, pelo contrário, mas evitam perder tempo e caminhar excessivamente.


E assim, depois de mais de 20 quilómetros percorridos, terminámos o nosso dia no hostel cansados e sem aguentar as pernas, mas com a certeza que tínhamos aproveitado da melhor forma o nosso segundo dia e ansiosos por aquilo que o terceiro dia na cidade nos iria reservar.

TERCEIRO DIA

O terceiro, e último dia na cidade, foi totalmente dedicado ao Vaticano, a cidade-estado independente de Itália e conhecido como o país alto da religião católica. Uma vez que escolhemos o primeiro domingo do mês para fazer a nossa visita, tínhamos a oportunidade de visitar os Museus do Vaticano gratuitamente durante a manhã. Além disso, o Papa estaria também presente na sua janela para o discurso habitual de cada domingo, o ângelus. No entanto, os dois horários sobrepunham-se e, por causa disso, decidi que seria uma melhor opção tentar ver o Museu o mais rapidamente possível para conseguir apanhar um pouco do discurso. O tiro saiu pela culatra e acabei sem ver o Museu como deve ser e sem ver o Papa, que acabou o seu discurso pouco tempo antes de eu chegar ao recinto.

No entanto, e apesar de ter visto o Museu a uma velocidade equiparável a um carro de Fórmula 1, posso dizer-vos que, apesar de ter uns tetos incríveis, muito trabalhados, não acrescenta imenso quando comparado com tudo o que tínhamos visto no dia anterior. Além disso, a Cappella Sistina, dentro deste museu e emblemática como só ela, deixou muito a desejar. Com uma dimensão mais pequena do que aquilo que esperava e com demasiados turistas dentro dela, marca apenas pelo fresco d’A Criação de Adão, por Michaelangelo que, apesar de mais pequeno do que imaginava, é impressionante pela notoriedade do mesmo. 

Aquilo que acabou por me marcar dentro do Vaticano e que, para mim, é a grande estrela entre todas as capelas, igrejas e basílicas que tive a oportunidade de visitar, é a Basilica di San Pietro. De entrada gratuita, é uma das maiores e mais bonitas basílicas que já vi, apesar de não aparentar pelo seu exterior. Com detalhes em dourado, mármore em rosas, pretos e cinzentos e frescos em tons azulados, misturados de uma forma muito natural, cria a perfeita harmonia ao local e deixa-nos a suspirar em cada esquina e nova divisão. Cada detalhe é pensado ao pormenor para ir de encontro à estética geral mas é muito próprio daquele local, sendo uma lufada de ar fresco a cada divisão em que entramos. É muito difícil encontrar palavras para descrever esta basílica e aquilo que sentimos quando entramos na mesma, sendo ou não praticantes da religião católica.


Além da Basílica, a Piazza San Pietro é também impressionante tanto pela sua magnitude como pela quantidade de pessoas que aqui se reúnem pela mesma fé e com o mesmo propósito. Seja pelas suas fontes, enormes colunas ou por ser a primeira impressão que temos desta cidade-estado, é sem dúvida um marco importante em qualquer roteiro por Roma. Atrás da mesma, podem encontrar a Via della Conciliazione, uma rua de comércio local muito conhecida e movimentada pela sua vista privilegiada para a Basílica e por ser a rua principal de ligação entre Roma e o Vaticano. Aqui existem dezenas de gift shops nas quais podem comprar as vossas recordações da cidade, os terços ou até réplicas das figuras mais importantes da religião católica.

Depois da chuva torrencial que apanhámos na manhã, enquanto esperávamos por entrar no museu, o tempo decidiu dar-nos tréguas e voltámos a Roma. Não deixámos, no entanto, de passar pelo Castel Sant'Angelo, outrora castelo utilizado como habitação pelo imperador, posteriormente pelo Papa e que hoje em dia é a casa de um museu que visa dar a conhecer o seu interior e a história da sua criação, assim como daqueles que por lá habitaram. Apesar de soar muito importante, o castelo não é  tão imponente quanto seria de esperar e, portanto, não me impressionou especialmente. Vale a pena espreitar se estivermos de passagem por lá, mas deslocarmo-nos propositadamente para ver o seu exterior não é, de todo, proveitoso.


Por fim, e para terminar o dia da melhor maneira possível, passámos novamente pelo centro para nos despedirmos desta cidade que subiu para o topo das minhas cidades favoritas, de entre todas as que já visitei. Apesar de tudo aquilo que me conquistou, não deixo de ficar triste com o facto de se notar uma grande diferença entre a zona histórica e a zona urbana, passando de asseada e conservada a suja, velha e degradada, como já vos disse. Ainda assim, a reputação que persegue a cidade não é em vão, e, portanto, recomendo muito a visita para sentirem o verdadeiro espírito italiano - mesmo no meio dos milhares de turistas. Cada igreja é um novo local a visitar - obrigatório entrar em todas as igrejas que vos apareçam, porque cada uma é mais incrível que a anterior - e a deslumbrar-nos, cada esquina é um novo cantinho maravilhoso nos seus tons terra, barulho e cheio de plantas características. Uma cidade que nos faz sonhar, sem dúvida.

Eu sei que este guia ficou um pouco grande, mas sinto que esta cidade tem tanto para oferecer e tanto para visitar que sinto que é importante referir tudo aquilo que visitei para também terem uma opinião, na primeira pessoa, de como as coisas são e daquilo que realmente vale a pena visitar na cidade.

Já alguma vez visitaram alguma cidade italiana? Ficaram curiosos em visitar Roma?

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Literatura // Jane Eyre

Existem diversos clássicos da literatura que fazem parte de bucket lists de literatura e os quais ambicionamos um dia ler, para podermos formar a nossa própria opinião sobre os mesmos e afirmar que o fizemos. Esse é o caso dos clássicos românticos como o Orgulho e Preconceito – um dos meus livros favoritos de sempre, do qual já vos falei AQUI -, o Romeu e Julieta ou o Jane Eyre, livro que posso finalmente riscar da minha readlist.

Jane Eyre, um livro escrito por Charlotte Bronte, conta a história da personagem que dá nome ao livro na primeira pessoa desde o início da sua vida, em meados do século XVIII até à sua idade adulta.

Confesso que demorei algum tempo a ler este livro. Levei-o em todas as viagens que fiz durante o meu período de Erasmus mas não conseguia convencer-me a pegar nele e ler. Como seria de esperar, a escrita da autora é muito rebuscadamuito densa, excessivamente detalhada e extremamente pessoal  numa época que não nos é familiar. A forma como a sociedade era comandada na altura nada tem a ver com aquilo que hoje em dia vivemos e, por isso, é complicado acompanhar e apoiar as decisões tomadas pela personagem principal uma vez que não compreendemos a cem por cento as circunstâncias em que esta se encontrava – uma época em que o machismo, a escravidão, a sociedade hierarquizada e a serventia eram o prato do dia.


No entanto, Jane tem um carácter muito forte, pouco permissivo e bastante diferente das restantes mulheres da sua época, revelando uma nova perspetiva aos costumes de outrora e à forma como as personalidades mais vincadas eram demonizadas e causavam alarme de entre os demais. É uma personagem difícil de gostar e com a qual não se consegue criar uma conexão facilmente mas, no entanto, é também a personagem que mais sentido faz na narrativa em que se encontra. A sua personalidade perspicaz traz sempre um ponto de vista fresco e inesperado a qualquer situação em que se encontre, independentemente da gravidade do mesmo. Mantém-se fiel àquilo que acredita independentemente daquilo que o seu coração diz e é bastante pragmática - sabe o seu lugar e tende a ficar nele, mesmo que seja puxada para de lá sair.

É agradável acompanhar o crescimento da personagem desde os seus tempos de infância e compreender de que forma aquilo que ela passou influenciou a sua maneira de pensar e ver a vida. Apesar de não serem situações muito fora do comum – a morte dos pais aquando pequena, a ida para um colégio religioso e a serventia enquanto tutora na casa de uma família com posses -, fazem sentido na narrativa e conferem um toque realista à mesma.

Apesar de achar interessante o conceito e a forma como a personagem desenvolve ao longo da trama, não consigo recomendar este livro. Apesar de considerar louvável o facto da autora ser a primeira a escrever na primeira pessoa, algo que hoje em dia é recorrente em livros de ficção, especialmente nos young adult, achei a leitura muito maçadora e bastante previsível. Sim, reconheço que é admirável termos como personagem principal uma mulher simples, sem grandes elementos atrativos e o quão isto era arriscado na época em que a autora viveu e desenvolveu o seu trabalho. 

No entanto, a leitura não é dinâmica, os diálogos entre as personagens são de difícil compreensão, muito filosóficos e formais para aquilo que gosto e aprecio – mais uma vez, pela época em que a história é narrada. Acredito que o facto de não ter gostado da narrativa pode estar relacionado com a forma como o romance está escrito, que não vai de acordo com aquilo que mais gosto, e não pela história em si. Por isso, se gostam de livros históricos, narrados na primeira pessoa e com um pouco de romance, acho que este é um tiro certeiro para vocês. Para mim não o foi!

Já leram o Jane Eyre? Quais os clássicos que me recomendam?

sábado, 16 de março de 2019

Séries // Genius

Não existe um género de série que seja o meu favorito, como já vos disse algumas vezes. Em determinado momento da minha vida faz sentido ver um tipo de série mais cómico, noutro momento faz mais sentido um drama e, quando me estou a sentir um pouco extra, viro-me para as fantasiosas ou em estilo de documentário - que são uma raridade na minha coleção! Foi o caso de Genius, uma série que desde que saiu tinha curiosidade de ver mas que só agora se proporcionou o momento para tal. 

Ao contrário de uma série normal, Genius divide as suas histórias por temporadas, focando-se em célebres nomes mundiais dos mais variados ramos profissionais – campo artístico, científico ou desportivo. Nas duas temporadas disponíveis, podemos acompanhar a vida de Albert Einstein, físico do mundo conhecido pela sua Teoria da Relatividade e de Pablo Picasso, famoso pintor espanhol que se destacou no cubismo. 


Acompanhar a história de grandes personalidades é sempre um pau de dois gumes, na minha opinião. Se, por um lado, é muito interessante saber como se desenrolaram as suas caminhadas até ao sucesso com que morreram, por outro lado acabamos por conhecer novos pormenores das suas vidas que nos podem desiludir. E este foi o caso. Apesar de saber que existe uma grande diferença cultural entre a época em que estes génios viviam e aquela em que vivemos atualmente, custa-me ver o desprezo com que tratam as mulheres que os rodeiam e a subvalorização do trabalho das mesmas em prol do seu próprio trabalho. 

No entanto, o facto da série ser tão realista até nos pontos mais sensíveis só lhe acrescenta valor. Todos acreditamos que o sucesso acontece apenas para aqueles a quem a fortuna bate à porta. Mas nem sempre é assim. Einstein ensina-nos que o trabalho recompensa e que a persistência é a chave para tudo. Se este não tivesse persistido vezes e vezes sem conta, a sua teoria nunca teria sido aceite dentro da comunidade científica – que tinha a mente especialmente fechada na época. Já Picasso ensina-nos que devemos de nos desafiar sempre, não nos acomodar na nossa zona de conforto e explorar todas as opções até encontrarmos aquela que seja mais fiel à nossa identidade. 

Os atores não se destacam particularmente. Fazem um bom trabalho, entregam as suas falas da melhor forma mas não impressionam com a sua dinâmica em cena ou com uma representação particularmente emocionante, apesar das personagens assim o pedirem. Destaco a interpretação de Samantha Colley, como primeira mulher de Einstein e uma das amantes de Pablo Picasso, que se coloca noutro patamar quando comparativamente com os demais. A banda sonora da série adequa-se perfeitamente às épocas em que esta se passa – mesmo vivendo no mesmo espaço temporal, os caminhos de Einstein e Picasso são muito distintos, sendo as suas culturas e a cidade onde viviam bastante diferentes. A sonoridade adapta-se à cultura em que estes estão inseridos, transportando-nos para um local completamente diferente de uma temporada para a outra.

Sendo uma série da National Geographic e uma série de estilo bibliográfico, não é filmada da forma mais criativa possível, porque não existe margem para grandes efeitos ou alterações de luzes- é uma história real, nua e crua. Ainda assim, acho que cativa o espectador ao ecrã, uma vez que a história saltita entre o passado e o presente das personagens, conferindo maior dinâmica à cena. Sem dúvida que é uma série que vale a pena pela história que nos conta, pelos segredos que revela e que nós nem temos consciência e pela inspiração que é ver como estas pessoas trabalhavam e viviam a sua vida que começou de forma ordinária e passou a brilhante.

"My future is mine and mine alone, so I must take charge of it."


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