sábado, 13 de outubro de 2018

12 Horas em Torino

Foi simples para mim decidir o primeiro destino ao qual iria a solo. A cidade de Torino pareceu-me lógica desde o primeiro momento em que comecei a traçar itinerários pela sua notoriedade, pela proximidade a Milão e pela quantidade enorme de atividades - e bastante variadas - que a mesma oferecia - desde museus a parques, passando pelas ruas tão características.

Foi assim que, pelas 7 da manhã do último fim-de-semana de Setembro, me pus a caminho de Torino com ajuda da Flixbus. Cheguei ao destino duas horas depois, ainda com algum sono mas cheia de vontade de conhecer a cidade. Decidi que a primeira coisa que queria visitar era o Musei Reali di Torino, ao qual pertence o Palazzo Reale, por ser um ponto mais turístico e de forma a evitar grandes filas na bilheteira. Dirigi-me, portanto, e um pouco às cegas - fui parar a uma das 4 feiras que vi ao todo durante a minha passagem pela cidade nesta tentativa de não recorrer ao telemóvel - à Piazza Castello, a praça onde encontramos a maioria dos museus da cidade, num conjunto de edifícios em tons claros.

Aqui adquiri o mapa da cidade com todos os pontos principais da cidade assinalados e confirmei a vontade que tinha de visitar o interior do Palazzo Reale. Sorte a minha do museu estar em celebrações e, portanto, paguei metade do bilhete - ou seja, apenas 3 euros. O bilhete na totalidade é 12 euros, havendo descontos para idosos, estudantes ou crianças e incluí-a a visita ao Palácio, à Cappella della Sacra Sindone, à Armeria Reale e a uma parte do Giardini Reali. Dizer-vos que estes 3 euros fizeram-se valer é pouco.


Tenho que admitir que as minhas expectativas já estavam elevadas após ter visto algumas fotografias do palácio pelo Instagram. Seria de esperar que essas expectativas fossem igualadas mas nunca superadas. E tal aconteceu. Com uma imensidão e uma grandeza ímpares, o Palácio Real é de cortar a respiração a cada sala distinta por onde passamos, desde o momento em que subimos as primeiras escadas, ornamentadas num estilo barroco e com frescos pelos tectos até aos jardins, onde terminamos o percurso, com um aspecto cuidado e com uma perfeita simetria.

Somos conduzidos, no interior do Palácio, a ver os aposentos do rei e da rainha, as salas de convívio, a sala do trono, a armaria - recheada de diferentes armaduras pertencentes aos diferentes estatutos sociais e os respetivos corceis, bem como diversos exemplos de armas utilizadas ao longo dos anos nas batalhas em nome da monarquia -, a sala de jantar ou a sala chinesa. Todas elas frescos incríveis desenhados nos tetos, paredes extremamente detalhadas, candeeiros de tecto do mais bonito que já vi e com semelhanças entre si, constituindo uma bonita harmonia entre as diversas salas que podemos visitar.

No final deste percurso, somos convidados a visitar a Cappella della Sacra Sindone, uma capela católica de estilo barroco extremamente trabalhada - como o estilo exige -, com algumas esculturas em mármore e em tons monocromáticos. Apesar de ser bastante bonita, deixa a desejar depois de toda a riqueza que presenciamos ao longo do interior do palácio. A mesma reação se coloca para os jardins reais que, apesar de terem imenso potencial e terem um espaço muito bonito e bem verdinho, acabam por perder um pouco porque não serem explorados da melhor forma. No entanto, penso que estavam em obras e, portanto, pode ser que seja uma das renovações à qual eles tomarão atenção.


Duas horas e poucos minutos depois, saí do Palazzo Reale com um lugar especial para este local no meu coração e rumei em direção à Porta Palatina, um antigo portão romano que permitia a passagem entre o lado norte da cidade e o centro da mesma. A imponência desta estrutura, toda em tijolo vermelho, constitui um marco histórico da cidade e, hoje em dia, serve como local de convívio para grupos de amigos nos jardins circundantes. Passada a porta, e algumas ruas depois, damos de caras com a Piazza della Republica que, nesse dia, estava cheia de barracas de feirantes - estilo feira de Carcavelos! Como devem perceber, não consegui ver quase nada da zona da praça mas vi alguns negócios nas várias barracas - não estivesse eu em contenção de custos e tinha voltado com um par de sapatos novos para casa -, mas deu para perceber que é uma das zonas mais citadinas da cidade, virada para o comércio local.

Posto isto, estava na hora de me dirigir ao segundo e último museu que sabia que tinha que visitar. Localizado no Mole Antonelliana, o Museu Nacional do Cinema despertou a minha atenção tanto pela temática que me interessa como pelo próprio monumento que, tal como o nome indica, é de dimensões extraordinárias e é observável de muitos dos pontos da cidade. Este museu mostra-nos o desenvolvimento e criação do cinema, a física por detrás do mesmo e a sua história. Com imensas salas diferentes adequadas a cada era do cinema, imensas atividades interativas com o utilizador, uma zona dedicada em exclusivo ao desenvolvimento sonoro dos filmes onde podemos deitar-nos e relaxar ao som das bandas sonoras mais badaladas e um hall of fame com alguns dos melhores clássicos do cinema, vale a pena visitar este museu que nos leva às diferentes décadas do cinema e nos faz palpitar o coração com amor pela sétima arte.


Seguiu-se a Via Po, com as suas arcadas tão características desta cidade e as lojas locais que termina na enorme Piazza Vittorio Veneto que, tal como a maior parte das casas ao longo de toda a cidade, tem casas com cores muito suaves e neutras como o branco e o bege, não sendo, de todo, característico das outras cidades italianas que já visitei. Com imensas esplanadas, lembrou-me ligeiramente o Terreiro do Paço - mas em qualidade inferior, claro - e deixou-me com saudades da minha terra. No final da praça e sobre o rio Po encontra-se a ponte Vittorio Emanuele I que liga os dois lados da cidade.

Se o lado histórico da cidade é plano, o mesmo não se pode dizer sobre o lado oposto da mesma. Cheio de grandes montes e ruelas com uma elevada inclinação, é no Monte dei Cappuccini que podemos ter uma vista abrangente sobre a cidade de Torino, caso não queiram visitar o Museu do Cinema. Infelizmente, não tive tempo de subir a esse monte mas consegui entrar na Gran Madre di Dio, uma igreja com uma fachada imponente mas que, no seu interior, se apresenta bastante simples. O mais bonito desta igreja é a vista que apresenta sobre a praça que deixámos do outro lado do rio e sobre a cidade - ainda que reduzida, por não ser um ponto muito alto.


A passagem para o lado de lá do rio não foi a mais proveitosa e, portanto, decidi seguir ao longo da margem do rio em direção a uma segunda ponte para passar para o local que mais ansiei durante todo o dia - o Parco del Valentino. Se vocês me conhecem, sabem que eu adoro a natureza e adoro pequenos parques para passear, relaxar um pouco e passar algum tempo a apreciar a vida. Por isso, fazia todo o sentido para mim priorizar o tempo neste parque e, agora que passou, agradeço que o tenha feito. O parque é enorme e no dia de sol que apanhei pude presenciar a verdadeira essência do mesmo - os jardins cheios de pessoas a relaxar, a conviver e a petiscar. Gargalhadas no ar, imensos cães a passear e uma paz indescritível. Aproveitei para me sentar um bocadinho, comer alguma coisa, ver algumas fotografias que tinha tirado e relaxar, também.

Neste parque encontram ainda o Orto Botanico e o Castello del Valentino, um ao lado do outro e ambos com entrada paga, o que fez com que não entrasse nos mesmos. No entanto, sinto que não foi uma perda significativa, uma vez que o tamanho do jardim botânico me pareceu bastante reduzido e sem grande variedade a nível de espécies de plantas e o castelo se encontrava encerrado - ou pelo menos assim o aparentava. Aquilo que eu mais queria ver no parque era o Borgo Medievale, uma vila medieval à beira rio que, em todas as pesquisas que fiz, era altamente aclamada. O problema? Não fazia ideia em que zona do parque se encontrava. Depois de 3 voltas àquilo que eu pensava ser o comprimento do parque sem encontrar a vila e já com vontade de desistir, fiz o esforço de dar uma última volta pelo parque e ainda bem que o fiz - encontrei o tão aguardado reino medieval. Com uma área muito pequenina e com lojas artesanais no interior, teletransporta-nos por minutos para uma era diferente e desperta-nos a vontade de conhecer mais locais assim.


Pensei em terminar esta jornada com uma bebida típica de Torin - um Bicerin. Feito de café, chocolate e natas, é uma bebida muito aconchegante porque é servida a escaldar e serve perfeitamente como lanche. Gostava de me lembrar do nome do café onde bebi o bicerin, porque tanto o espaço como o serviço eram incríveis mas a memória de Dory não o permite! Com isto, faltava cerca de 1 hora e meia para o meu autocarro partir e pouco mais para visitar. Decidi, portanto, dar uma olhadela à zona histórica da cidade, passando por dois locais onde ainda não tinha passado. As ruas estavam cheias de pessoas, turistas e italianos que, com o entardecer, procuravam regressar às suas casas e as ruas estavam repletas de artistas de rua. Confesso que o encanto foi diferente daquele que senti logo de manhã, quando por lá passei pela primeira vez. Ver o pôr-do-sol dourado sob os edifícios brancos, ouvir a música ambiente e a agitação da cidade deram uma sensação acolhedora àquelas ruas.

Começando pela Piazza San Carlo, uma praça pedestre com dimensões semelhantes à Piazza Castello mas com um encanto diferente. Todas as lojas de luxo que podemos encontrar ao pé das arcadas. A contrastar com os edifícios desta praça, umas ruas abaixo, encontramos o Palazzo Carignano, um palácio todo em tijolo vermelho trabalhado de uma forma sublime e que se destaca dos demais edifícios, apesar de se encontrar numa praça muito recatada. Foi aqui que dei por encerrada esta jornada e me pus a caminho da estação de autocarros, por entre cantos e acordes de guitarra dos artistas, para voltar a Milão com o coração recheado de memórias boas.


Confesso que sinto que não ficou nada por ver. Apesar de ter gostado de ter mais tempo para visitar mais alguns dos muitos museus que a cidade tem para oferecer - o Museo Egizio ou o Museu do Automóvel -, sinto que vi aqueles com os quais me identificava mais e que faziam mais sentido, tendo em conta a estadia curta. É uma cidade que, apesar de bastante grande, se vê relativamente bem num dia inteiro, desde que mantenham um bom ritmo entre exposições e não percam tempo com pormenores. Aliás, admito que até os meus pés sentiram que não ficou nada por ver, uma vez que, no regresso a Milão, teimaram em não entrar nos sapatos.

Ficaram curiosos com a cidade? Qual foi a atração que mais vos chamou a atenção?

5 comentários so far

  1. Que lugar bonito! Adorei as fotos! :D

    www.amarcadamarta.pt

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  2. Ainda estou a rir com os postes candeeiros de rua sentados no banco de jardim :D

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  3. Uau, estou impressionada pela coragem que tiveste para viajar sozinha.
    Adorei as fotografias.

    Um beijinho,
    Cláu.

    https://oblogclau.blogspot.com

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