domingo, 26 de fevereiro de 2017

ACMA // ESQUELETOS NO ARMÁRIO

Esta publicação é, possivelmente, a mais pessoal e mais difícil que alguma vez escrevi. É uma carta aberta para os meus medos e receios a nível físico, a minha auto-estima e os preconceitos construídos por mim própria em relação ao meu corpo. O tema do ACMA deste mês é Sentimentos e achei que estaria na altura de partilhar um pouco da minha história e batalha diária com a vozinha depreciativa que vive na minha cabeça.


Nunca fui uma pessoa extremamente magra, como vocês podem ver. Desde criança que sou rechonchuda, com bochechas grandes, um pneu a mais na barriga e umas coxas redondas. Quando somos crianças, não nos importamos com isso. Claro, nunca era a pessoa que era escolhida para ser transportada às cavalitas porque era muito pesada e ocasionalmente surgiam alguns comentários acerca do meu aspecto que não me agradavam, mas que facilmente ultrapassava.

Só quando fui para o Ensino Básico que comecei a ganhar consciência do meu aspecto e daquilo que me diziam. Foi aqui que surgiram as primeiras batalhas internas: "porque é que és tão gorda?" ou "porque é que não podes ser magrinha como as outras?", que me desgastavam. Também aqui surgiram os comentários mais frequentes sobre a minha figura, sobre o facto de ser mais gordinha que as outras e era frequentemente ridicularizada por pessoas que eram, supostamente, minhas amigas. Este tipo de comentário fazia-me sentir tão mal que comecei a esconder-me inconscientemente atrás de roupas largas, hoodies, estilo maria-rapaz. Todos os dias olhava ao espelho e insultava-me; sentia-me uma baleia, um monte de banhas que nunca seria apreciado por ninguém. Apesar disso, o meu refúgio era a comida e sempre que me sentia mais stressada ou mais deprimida, corria para a cozinha e comia até rebentar.


Por entre pensamentos negativos e auto-estima abaixo de zero, passaram-se uns anos até eu decidir mudar a minha vida, no 9º ano. Comecei a mudar a minha alimentação, a evitar os açúcares e os refrigerantes, os bolos e os doces. A tentar mexer-me mais, numa tentativa desesperada de tirar estes pensamentos da minha cabeça, de encontrar uma luz no fundo deste túnel de depreciação. E realmente emagreci. Mas isto nada fazia para eu me sentir melhor: no meu pensamento continuava a ser a mais gorda no meu grupo de amigas, a mais feia. Apesar da minha alimentação ser correta e de praticar exercício, não conseguia perder mais peso e sentir-me 100% bem. Apesar das pessoas me dizerem que estava mais magra, não o conseguia ver quando me olhava ao espelho. A miúda gorda continuava dentro de mim.

O tempo continuou a passar e tudo continuou igual. Os meus anos de Secundário foram uma batalha constante entre esta voz interior e a minha consciência. Qualquer exercício que me expusesse mais era uma tortura: as idas à piscina eram raras, impensáveis com pessoas que eu conhecesse e as idas ao centro comercial o inferno. Não gostava nunca de me ver com nada, saía em lágrimas de todos os provadores porque as coisas não me serviam ou porque tinha que vestir um 42 de calças por o modelo ser mais apertado. Abdiquei de muitas experiências que seriam memoráveis mesmo por causa esta ansiedade das pessoas verem o quão grandes as minhas pernas eram, ou a minha barriga que não é definida. Se alguém olhava para mim na rua, a única razão que me ocorria para o fazerem era o facto de eu ser gorda. A ansiedade social era algo que me afetava imenso: o medo das pessoas não gostarem de mim por ser assim, de nunca encontrar ninguém que me amasse como eu sou; o medo das pessoas falarem mal de mim nas minhas costas, de me acharam uma gorduxona.


A faculdade veio como algo muito positivo na minha vida, a este nível. Trouxe-me uma confiança que sempre me faltou, uma auto-estima um pouco maior e uma maior aceitação de todos os meus defeitos ou quilos a mais. Finalmente consigo ir à praia sem morrer de vergonha, a piscina já não é um drama muito grande e as roupas mais justas também não o são. Os provadores deixaram de ser um local para chorar compulsivamente e o facto de vestir o 40 de calças já não me afeta tanto. O facto de ninguém se importar com o meu peso ou com aquilo que eu sou fisicamente ajuda (e muito). Não existe um preconceito, os comentários foleiros, o desdenhar ou apontar o dedo. Foi o início da construção do meu amor-próprio, da minha auto-estima e de um pensamento positivo.

A luta interior continua. Não pára só porque estou numa maré melhor, neste momento. Há sempre uma parte de mim que grita todos os meus defeitos aos meus ouvidos de cada vez que conheço alguém novo ou que me olho ao espelho. Mas essa voz é cada vez mais abafada pelas minhas qualidades, pela aceitação que sinto em relação àquilo que eu sou. Dou por mim a ver constantes imagens inspiradoras, a convencer-me que eu valho a pena, que estes pensamentos nada fazem por mim. A ir ao espelho e a enumerar aquilo que gosto. A viver a vida sem preocupações com o meu aspecto físico.

Vocês valem a pena, nunca se esqueçam disto. Espero que o meu testemunho consiga ajudar alguém que, tal como eu, se debate com o seu peso e com a sua auto-estima diariamente. Todos os corpos são bonitos e cada vez mais acredito nisto! No mundo não podem existir só pessoas com as medidas ideias; se assim fosse, a variedade não existiria, seriamos todos fotocópias uns dos outros. O nosso aspecto é uma das coisas que nos torna especial.

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22 comentários so far

  1. OMG tu és linda mulher! Adorei o texto, as fotografias estão lindas!
    Não te deixes ir a baixo, a sério és linda!
    No entanto até percebo o que passas, não sou magra, nem me considero gorda (agora) mas já sofri bastante por causa do peso, por ser diferente, mais cheia do que as outras meninas. Mudei alguns hábitos, e mais do que tudo, mudei a minha forma de olhar para mim!
    Desejo-te muita sorte linda.
    Beijinhos.
    www.beatrizcouto.com

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  2. Adorei!
    Também já tive autoestima baixa, mas isso passou graça aos vídeos de autoestima da Ana Lídia Lopes! Aconselho-te imenso a passares por lá:-)
    Acho ridículo os padrões de beleza da sociedade, acho que não devia haver padrões! Nós não somos o que aparentamos ser mas o que vem de dentro do nosso coração:-) Nunca te esqueças que a tua beleza vem de dentro, isso é o que tu és realmente! Sua linda!
    Beijinhos princesa <3

    O Planeta da Inês | New Post

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  3. Olaaa!
    És linda e "caga" para os padrões!
    Eu nunca fui magra e, tirando algumas paranóias femininas, estou bem assim.
    Sorri!
    Faz por ti, pelo que faz sentido para ti 💕
    Escreves super bem!

    Sucesso!
    Beijokitaz

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  4. Também sofro essa batalha constante da "auto-estima". Ainda tenho os meus momentos, e tal como tu, só na Universidade é que a coisa melhorou um bocado.

    Caramba, tu és tão tão tão bonita!!!!!! As fotografias estão maravilhosas, e adorei ler este pedacinho de ti. :D

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  5. Dos posts mais bonitos que já li. Cada vez mais acredito que cada corpo é um corpo e que nós não temos que seguir nenhum modelo para nos sentirmos bem connosco próprias. A minha situação é exatamente o oposto, sempre me senti péssima por ser mais magra do qur toda a gente que conhecia, via o corpo das minjas amigas a desenvolver-se e o meu permanecia igual. Por mais que eu comesse, não havia maneira de engordar. Até que me conformei com a ideia de que o meu corpo não tem de ter determinado aspeto para eu poder ser amada. Realmente as pessoas que nos rodeiam desempenham um papel importante na nossa autoestima e se estivermos acompanhados de amigos que nos façam olhar para as nossas próprias qualidades, ser-nos-á mais fácil valorizá-las e prestar menos atenção àquilo que nos deixa inseguros. Um beijinho!

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  6. Oh! Nunca pensei! Nunca tive acne, mas todas já passamos por fazes em que estamos menos contentes com o nosso aspecto e percebo-te muito bem :) adorei o texto e a tua força!

    TheNotSoGirlyGirl // Instagram // Facebook

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  7. Não é preciso de te dizer o quão linda te acho, por fora e por dentro. E não o digo só porque sou tua afilhada (😂), mas sim porque o sinto. Não me lembro de um momento contigo em que não me fizesses rir ou não me fizesses sentir mais segura de mim mesma, mesmo quando deliro ou faço um drama e isso é uma coisa que poucos conseguem, só por isso já és especial.
    Acredita cada vez mais em ti e nas tuas capacidades, és uma mulher de coragem. Gosto imenso de ti ❤

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  8. Tanto que me revejo nas tuas palavras. Eu emagreci e confesso que não sei como mas continuo a não me sentir bem, prejudico a minha saúde muitas vezes por medo de ganhar peso e sei disso mas no fundo não consigo parar de evitar. E ouço muitas vezes "estás tão magrinha" mas não estou como gostaria e continuo a não me sentir bem. Os acontecimentos do tempo de escola conseguem marcar-nos demasiado e isso nem sempre é bom! Um grande beijinho*

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  9. Valeu mesmo a pena ler a tua experiência! Tu és linda e espero que saibas disso *

    Beijocas,
    ANDA DAÍ!

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  10. Também "sofro" de alguns complexos com o meu corpo, mas é no verão que eles mais se evidenciam. Tal como tu, evito ao máximo ir à praia desde que saiba que está lá gente conhecida, evito as piscinas e acabam por seres raras as vezes em que me sinto bem quando estou mais exposta. No entanto, vou fazendo por mudar isso, sem grandes exageros ou radicalismos. Acho que o equilíbrio é o mais importante :)

    http://anetadaluisa.blogs.sapo.pt/

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  11. Que bonito e motivador texto. E que bela forma de o expores, com estas maravilhosas fotografias. E eu sinto que não só essas estrelas brilharam, tu também estás a brilhar, aliás, nada maior que um brilho interior poderia explicar esta confiança e este bem-estar que te fez hoje partilhar connosco tais dificuldades e medos.
    Espero que continues a aceitar-te, a amar-te, a gostar de te veres ao espelho. E quando não gostares, lembra-te que nem uma Super Modelo gosta de si a tempo inteiro, todos temos pontos fracos, tão fracos, que eventualmente um dia nos tornam mais fortes. :)

    Um grande beijo

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  12. Adorei o teu texto e as fotos estão lindas!
    Só o facto de teres tido a consciência de mudar a tua alimentação e fazeres exercício mais vezes foi uma conquista. O importante é seres saudável e feliz, o resto vem :) Fico feliz por conseguires ver o que todos vemos, uma mulher linda e realmente forte!!

    Beijinhos *
    http://xlittlebitof.blogspot.pt/

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  13. Todos temos as nossas lutas interiores que vamos travando ao longo da vida. Muitas vezes acabamos por perder momentos de felicidade só por coisas que só fazem sentido memso na nossa cabeça (tu gorda e feia? whatttt?). É contra essas inseguranças que temos que lutar para que não nos impeçam de viver e sobretudo temos que olhar todos os dias para o nosso lado bom!:D

    Another Lovely Blog!, http://letrad.blogspot.pt/

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  14. Depois de ler este testemunho tão pessoal só posso enviar-te um abraço beeeeeem grande e dizer-te que todos nós temos momentos de insegurança, seja a nível físico ou não.
    Nem sempre é fácil, mas não te deixes levar por esses sentimentos.
    Tu és tu, e isso faz de ti ÚNICA!!!

    Beijinho grande!!

    Porty's Diary - Blog
    Porty's Diary - Facebook

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  15. Dos melhores posts que li até hoje. Sentimentos é sempre algo que nem todos conseguem lidar da melhor maneira, podendo tornar-se num problema. Mas sem dúvida alguma que este post será o apoio para muitas pessoas! :)
    Style Days Blog

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  16. o post está um máximo assim como as fotos! (:
    http://arrblogs.blogspot.pt/

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  17. Eu compreendo perfeitamente o que expressaste aqui.
    Na minha adolescência tive peso a mais. Nunca fui magra.
    A dado momento emagreci, mas não estava magra no sentido que toda a gente entende. Recentemente percebi uma coisa: não posso nem devo emagrecer mais. Sim, tenho alguns extras na região abdominal, mas de resto, sou uma mulher proporcional e tenho uma boa aparência. Se os outros não gostarem do meu corpo o problema é deles e delas e da sociedade inteira, e não meu. Eu percebi que estando mais magra do que o que estou (e já estive), não me sinto bem. Não fico bem. Agora estou como devo estar e não é falta de esforço ou de cuidado com a alimentação. Faço exercício, como de tudo. Mantenho o peso. Nem mais, nem menos.

    Infelizmente projectaram em nós toda a sorte de ideias muitas vezes sem senso de realidade. Os corpos não são todos iguais.
    E sabes? A sociedade tem estado a mudar e já começa a haver alguma aversão à magreza excessiva. Não é suposto uma mulher ser demasiado magra e há contexto científico para isso.

    No fim, desde que a pessoa seja saudável (a obesidade não tem contexto por mais que a tentem defender e têm tentado), não vejo porque havemos todas de ser exactamente iguais em estrutura física ou em distribuição de gordura - nem é suposto. Mesmo em beleza exterior, há uma grande amplitude de portes físicos considerados bonitos.

    Das fotos que vi aqui neste post e noutros estás óptima. Não precisas de emagrecer. Se o fizeres, faz por ti, e faz de forma saudável. Não te preocupes com os outros. Eu deixei de me preocupar e foi o melhor que fiz.

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  18. Adorei o teu texto, as tuas fotos.
    Mas nunca te deixes ir abaixo, dói muito quando vamos.
    É preciso coragem!

    Beijinhos,
    http://www.pirilamposemarte.com/

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  19. Adorei ler o teu texto, parabéns pela coragem - não é nada fácil falar assim tão abertamente dos nossos próprios complexos! Estou habituada a ver aqui pelo blog uma pessoa tão descontraída, confiante e divertida e não fazia ideia que tinhas passado por essas fazes menos boas de auto-apreciação. Ficou muito contente por saber que tens melhorado nesse aspeto - claro que uma pessoa não fica livre de um dia para o outro de uma coisa tão profunda e complexa como a falta de confiança e aceitação, mas acredito que eventualmente até te irás esquecer disso, porque és uma pessoa mesmo especial e pareces estar a aperceber-te disso cada vez mais :)
    Por fim, não posso deixar de elogiar as fotos - estás super gira (és super gira!) :D

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  20. O caminho para uma boa autoestima não é fácil e, nalgum momento das nossas vidas, todos achamos que não somos suficiente, ou que os outros são melhores que nós. Não é verdade, todos temos qualidades, todos temos defeitos, todos procuramos ser a melhor versão de nós mesmos! É muito importante que agora olhes para trás e digas à pequena miúda que um dia foste que estás orgulhosa e que não existe nada de errado com ela! Confia em ti, confia em que foste e em quem serás! Mais ninguém tem a oportunidade de ser quem tu és e isso é extraordinário, tu podes ser maravilhosa e fantástica em maneiras que mais ninguém nunca poderá! Deixa-me muito feliz saber que hoje já és mais segura de ti própria, porque todos o devemos ser!
    http://sunflowers-in-the-wind.blogspot.pt/

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  21. Adorei o post! Acho que foi um desabafo muito pessoal e muito emocionante, um post transparente, em que não só te dás a conhecer, como acabas por ajudar, mesmo que indiretamente, pessoas que passam pelo mesmo. Espero que cada vez mais consigas calar essa voz que grita os teus supostos defeitos e que te ames sempre mais! Para além disso, adorei as fotos!

    Um beijinho,
    Bia do Bookaholic.

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  22. Que texto lindo e inspirador!
    Identifiquei-me muito e fiquei até emocionada.
    Não vou contar a minha história, até porque é muito parecida com a tua!
    :)
    Sim, ainda é uma luta diária por muito que eu diga que não.
    Sou magra, mas acho sempre as minhas pernas gordas. E acho-me feia, terrivelmente feia. Ainda por cima tenho marcas pelo corpo... N todo, mas parte... Marcas de irritações e cicatrizes provocadas por foliculite + formação de quelóides o que me faz odiar o meu corpo. Tem dias em que n me quero despir para não ter que me ver no espelho.
    Foste uma inspiração para mim hoje. Obrigada e desculpa o desabafo.
    Acho que aproveito a onda e escrevo sobre isso*

    Beijinhos e continua nessa luta grande guerreira!

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